quarta-feira, 18 de agosto de 2010

DURA E NEGRA REALIDADE


Hoje dei-me conta que, a partir de certo ponto da nossa vida, as coisas tendem a desaparecer...
Quando somos crianças o futuro mostra-se-nos sorridente e luminoso...
A partir de uma certa idade parece que tudo dá uma volta de 180º... O futuro já não é tão brilhante... Torna-se um pouco escuro... Parecemos caminhar para um abismo... Parece... não... não parece... caminhamos mesmo para o fim!
Ser adulto não é fácil. É um sonho quando somos crianças. Mas um pesadelo quando já não somos. Além de responsabilidades, deveres, obrigações e tudo o resto, há algo que nos faz doer muito mais. Uma dor mais profunda que não tem cura. Espaços que vão ficando vazios. Sim. Ficam vazios. Porque ninguém substitui quem parte.
Vejo que, neste momento, lido muito mais com a morte que antes. Pessoas que conhecia que chegam ao fim da sua viagem. Pessoas chegadas aos meus amigos.
Não sei o que lhes dizer nestas alturas... Tudo soa vazio de significado. Fico a imaginar como será quando chegar á minha vez de enfrentar essa dor. Sei que vai ser algo que só eu poderei suportar. A cruz que só eu posso carregar. E, ainda que esteja rodeada de amigos e de quem goste de mim, vou-me sentir vazia e sem sentido.
Sei que tenho algo que nunca partirá... tudo o que me ensinaram... tudo o que vivi... todo um mundo de recordações.
Sei que se deve viver um dia de cada vez. Sei que não há nada que me prepare para esse dia. Sei que é a lei da vida. Sei também que já vi essa lei invertida. Sei que vi o vazio nos olhos de um pai ao enterrar o filho... Vi a impotência nos seus gestos... Sei que doeu-me ver...
Lembro-me, vezes sem conta, do mail que me enviaram a comparar a vida com uma viagem de comboio... E sei que não quero perder os meus companheiros de viagem, ainda que saiba que não depende do meu querer...
Sei que parece um pouco negro o que aqui escrevo... mas apenas estou a constatar a realidade.
Enquanto crescemos subimos uma montanha... até um pico de onde tudo parece estar aos nossos pés... até um pico de onde só se avista beleza. E depois de chegarmos a esse pico o que acontece? Só nos resta descer... levando apenas na memória a beleza dos momentos vividos...